A pornografia de vingança é um “fenômeno” global. Na Austrália, estimativas recentes apontam que uma em cada cinco mulheres entre 18 e 45 anos estão suscetíveis ao problema, o que provavelmente explica a decisão do Facebook de começar os testes por lá.
De acordo com o Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT University), vítimas em potencial na Austrália incluem a população indígena, pessoas com deficiência e jovens de até 19 anos. Homens também são suscetíveis, mas a proporção de mulheres sob risco é imensamente maior. É difícil combater o problema porque, nas redes sociais, a pornografia de vingança se propaga de maneira muito rápida. Quando uma equipe de revisores analisa as denúncias, pode ser tarde. A saída é apelar para ferramentas que, de maneira automática, evitam que esse tipo de conteúdo se dissemine. Mas como fazer isso? O caminho mais trivial é o da inteligência artificial. Sistemas desse tipo já estão em uso, mas eles ainda não são eficazes. É aí que a iniciativa na Austrália ganha as atenções: a ideia é que a própria pessoa envie ao Facebook fotos que ela considera comprometedora para que a rede social bloqueie esse conteúdo se outro usuário tentar publicá-lo. Acredite, esse é o plano. O teste conta com apoio da agência governamental eSafety. Funciona assim: a pessoa deve preencher um formulário no site da eSafety e depois enviar a imagem que ela teme ser compartilhada — como nudes — para ela mesma via Facebook Messenger (ou Instagram); na sequência, ela deve reportar ao Facebook que esse conteúdo foi enviado sem consentimento ou é malicioso. Quando isso for feito, o Facebook já terá recebido uma notificação da eSafety sobre a preocupação daquela pessoa. De acordo com o Facebook, as imagens não ficam armazenadas nos servidores da rede social. O sistema utiliza o link e outros parâmetros para criar uma espécie de impressão digital do conteúdo. Assim, se cópias da foto (inclusive editadas) forem enviadas posteriormente por outro usuário, a publicação será barrada imediatamente.
Se funciona? É o que os testes irão dizer. Mas não deixa de ser uma ideia polêmica. Primeiro porque as imagens podem até ser eliminadas, mas elas ficarão no sistema da rede social por algum tempo. Além disso, só depois de as notícias sobre os testes terem se espalhado é que o Facebook reconheceu que as imagens podem ser checadas por funcionários para só então a tal da “impressão digital” ser gerada. Ou seja, alguém lá no Facebook vai ver os nudes e outras cenas íntimas. É de se imaginar, portanto, que somente pessoas muito preocupadas com a disseminação desse tipo de conteúdo é que irão apelar para o recurso. Mesmo se a ideia for bem aceita, ela irá apenas amenizar o problema. As fotos usadas em revenge porn frequentemente foram tiradas porque ambas as partes concordaram com isso, mas com a condição de que os registros permaneçam em segredo. Mas também há casos em que fotos ou filmagens foram feitas sem a vítima perceber — com ela dormindo, por exemplo. Nessas circunstâncias, é comum a pessoa só descobrir o que aconteceu quando é tarde demais. Com informações: TechCrunch, Daily Mail