Covid longa afeta milhões e se torna desafio para economiaPor que devemos nos preocupar com a covid longa?
Basicamente, a covid longa pode afetar qualquer pessoa infectada pelo coronavírus SARS-CoV-2. No entanto, dados do Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, indicam que a incidência é mais comum em pessoas no auge da idade reprodutiva, entre os 30 e 49 anos. No Brasil, as pesquisas sobre o perfil de pessoas com sequelas da covid-19 ainda são incipientes.
Vacina protege contra covid longa?
Para se proteger contra a covid longa, a estratégia 100% eficaz é impedir a infecção pelo coronavírus. Para isso, algumas medidas de prevenção podem ser adotadas, como usar máscaras em locais com aglomerações — especialmente se o número de casos da covid-19 estiver em alta na sua região — e manter em dia a vacinação. Neste último caso, isso significa que é preciso tomar também as doses de reforço, quando recomendadas. Publicado na revista científica Open Forum Infectious Diseases, estudo revelou que tomar a vacina contra a covid-19 pode reduzir o risco de covid longa em mais de 40%. Liderada por cientistas do Instituto Nacional de Estatísticas Britânico, a pesquisa considerou pessoas entre 19 e 69 anos e reforça a importância da imunização.
Sintomas da síndrome pós-covid (covid longa)
Mesmo na fase inicial, a covid-19 não é uma “simples” infecção respiratória. Na verdade, é uma doença sistêmica que afeta diferentes sistemas e órgãos do corpo, além das vias aéreas e do pulmão. Por isso, as sequelas da fase aguda do quadro podem ser bastante diferentes entre os pacientes, dependendo de fatores ainda desconhecidos pela ciência. No momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) destaca que “foram relatados mais de 200 sintomas diferentes [da covid longa] que podem ter impacto no funcionamento diário do corpo”. Este número bastante abrangente de queixas foi apontado por uma pesquisa da University College London, publicada na revista EClinicalMedicine. Entre os principais sintomas e queixas associados com a covid longa, estão:
Fadiga;Falta de ar;Tosse;Dor no peito;Dor de cabeça; Névoa mental;Queda de cabelo;Acidente Vascular Cerebral (AVC);Dores articulares;Diabetes; Depressão e ideação suicida;Miocardite;Arritmia;Desconforto torácico.Problemas cognitivos, como dificuldade de concentração e perda de memória;Problemas de sono;Alteração no olfato ou paladar; Convulsões e epilepsia.
É importante observar que não é toda pessoa com covid longa que irá apresentar esta extensa — e incompleta — lista de possíveis sequelas da fase aguda da doença. Na verdade, podem aparecer um ou outro sintoma apenas, dependendo de como o organismo do indivíduo irá reagir. Em outros casos, o paciente pode até morrer em decorrência desses problemas, como indica um recente relatório do governo norte-americano.
Novas variantes, como a Ômicron, podem deixar sequelas?
Embora exista a impressão de que apenas as primeiras variantes da covid-19 desencadeavam formas graves da doença e casos de covid longa, isto não é necessariamente verdade. Sim, é preciso considerar que muitas pessoas já foram infectadas em algum momento dos últimos três anos e que parcela significativa do mundo está vacinada com pelo menos duas doses. Em outras palavras, o organismo humano está melhor preparado para combater a doença. Por outro lado, os níveis de defesa naturais ou induzidos — como os anticorpos — caem, de forma natural, com o tempo, especialmente quando não recebe uma dose de reforço. Somado a este ponto, estão as mutações do coronavírus, conhecidas por facilitar as reinfecções, especialmente quando se analisa a variante Ômicron e suas descendentes, como a BQ.1. Em resumo, as novas variantes podem deixar sequelas tanto quanto as mais antigas, mesmo que o porquê disso envolva processo diferentes. Inclusive, este fato foi confirmado por um estudo publicado na revista Nature Communications, no qual pesquisadores do Instituto Norueguês de Saúde Pública investigaram o número de casos da covid longa associados com a variante Delta e a Ômicron. Após analisar dados de mais de 1,3 milhão de pessoas, eles concluíram que é possível contrair sequelas da doença em proporções semelhantes, independente da cepa viral.
Quanto tempo pode durar a covid longa?
A fase aguda da covid-19 dura aproximadamente uma semana e, em alguns casos, este estágio da infecção pode se prolongar por mais duas semanas. De qualquer forma, a maioria dos pacientes não terá nenhum resquício da doença em até 12 semanas — o que aparece ou continua após este período é conhecido como covid longa. A síndrome da pós-covid “é definida como a continuação ou desenvolvimento de novos sintomas [da covid-19] três meses após a infecção inicial por SARS-CoV-2, com duração desses sintomas por pelo menos três meses sem outra explicação”, define a OMS. Agora, o tempo limite da covid longa, simplesmente, não existe. Em seis meses, uma parcela significativa dos pacientes estará curada, mas alguns indivíduos podem viver com essas sequelas de forma permanente. Entre os casos, isso costuma ocorrer em pacientes que tiveram um AVC ou infarto, como consequência da coagulação desregulada e formação de trombos, provocados pela covid-19.
Covid longa acomete quanto porcento dos infectados?
Apesar dos mais de três anos da descoberta do vírus da covid-19, as sequelas da condição ainda não são tão bem compreendidas pela ciência até o momento. Outro fator que dificulta o estudo é a variedade de sintomas relacionados com a síndrome da pós-covid. Neste cenário, “estudos mostram que cerca de 10 a 20% das pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 podem desenvolver sintomas que serão diagnosticados como covid longa”, pontua a OMS. No entanto, os dados podem oscilar dependendo do perfil de pacientes incluídos no estudo. Por exemplo, pesquisadores da Fiocruz Minas investigaram a incidência da covid longa em 640 pacientes, que passaram por algum tipo de atendimento hospitalar devido à covid-19, entre os anos de 2020 e 2021. No recorte, a maioria dos voluntários não estava vacinada, quando infectada. Publicado na revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, o levantamento revelou que a covid longa foi observada em metade das pessoas incluídas no estudo. As sequelas duraram por mais de 14 meses em alguns pacientes e, ao final do estudo, ainda não tinham desparecido. Fonte: OMS, Nature Communications, Instituto Butantan, NHS, Rstmh e Fiocruz