Covid longa afeta milhões e se torna desafio para economiaQuinta dose contra covid já começa a ser aplicada no Brasil; quem pode tomar?
Para entender o atual cenário da pandemia, o Canaltech acompanhou, na manhã desta sexta-feira (18), o webinar A nova onda da covid-19 no Brasil, organizado por O Fórum e pelo International Center for Journalists (ICFJ). Além disso, levantamos dados complementares sobre a situação epidemiológica nacional.
Casos da covid-19 voltam a aumentar no Brasil
“A [nova] onda [da covid-19] já aparece de forma bastante forte em todas as regiões do país”, afirma Isaac Schrarstzhaupt, cientista e coordenador na Rede Análise Covid-19, em suas redes sociais. No momento, “vemos o aumento acentuado de novos casos notificados, sem impacto nos óbitos”, acrescenta. Em sua análise, Schrarstzhaupt destaca o fato do Brasil estar testando pouco para a covid-19, o que impacta diretamente os dados oficiais sobre a pandemia. Além do baixo número de testes, outro fator que dificulta a tarefa de dimensionar o tamanho real da nova onda é que os resultados testes caseiros não entram na contagem de diagnósticos. A partir desses dois pontos, Schrarstzhaupt alerta que, “muito provavelmente, esse número baixo de casos que aparece no gráfico, feito com os dados do Ministério da Saúde, não é 100% real. O número deve ser maior que este”.
Quais subvariantes da Ômicron provocam a nova onda?
Segundo as últimas análises do cenário epidemiológico, as descendentes da variante Ômicron do vírus da covid-19 são predominantes no Brasil. Para ser mais preciso, as cepas que mais aparecem no atual cenário são as BA.4 e BA.5. No entanto, outras sublinhagens já despontam por aqui. Este é o caso da BQ.1, que foi relacionada com um aumento de casos da covid-19 na Europa, nos Estados Unidos e também na Ásia. Na China, medidas restritivas voltaram a ser adotadas, como lockdowns e uso de máscaras. Em São Paulo, a cepa foi identificada em um paciente que morreu por complicações da infecção. Aqui, é importante destacar o que essas cepas têm em comum: são mais transmissíveis e podem infectar pessoas que já contraíram a doença ou que estão vacinadas. No entanto, não foram associadas com maior gravidade do coronavírus.
Precisamos voltar a usar máscaras em locais fechados?
Com a nova onda da covid-19 atingindo o Brasil, é normal se perguntar se as medidas restritivas e a obrigatoriedade de máscaras vão voltar. No momento, as autoridades públicas ainda não apontaram para este caminho, embora os cientistas da Fiocruz já recomendem a volta do uso de máscaras em ambientes fechados. Aqui, é importante lembrar que, independente de qual cepa da covid-19 estiver em circulação, “a forma como vírus é transmitido não muda e, consequente, as formas de impedir a transmissão continuam as mesmas”, explica Vitor Mori, doutor em engenharia biomédica pela USP e membro do Observatório Covid-19, durante sua fala no webinar. Entre as principais medidas que o pesquisador defende é o uso de máscaras, especialmente em locais fechados, sem a circulação adequada de ar e com aglomerações. Isso vale mesmo que o item de proteção não volte a ser obrigatório no Brasil.
Qual máscara da covid-19 vale usar?
“Em um cenário de não obrigatoriedade, a máscara cirúrgica protege basicamente os outros de você, caso esteja infectado”, explica Mori sobre as limitações do material. Por isso, o pesquisador defende que, “no cenário atual, onde a obrigatoriedade não está presente, se você se preocupa em se proteger um pouco mais, é interessante focar na PFF2”. “É importante deixar claro que o uso de máscaras não é perene. É devido à situação que estamos enfrentando”, avisa Mellanie Fontes-Dutra, professora da Unisinos e integrante da Rede Análise Covid-19. Inclusive, no passado recente, existiram momentos em que “pudemos flexibilizar mais”. Controlando a atual onda de forma precoce, estes momentos de tranquilidade voltam mais cedo. “Se pensarmos nessa perspectiva, nos frustramos menos”, completa.
Vacinas ainda são importantes na proteção do coronavírus?
Para conter o avanço da nova onda da covid-19, as vacinas continuam a ser fundamentais. Só que para provocarem o efeito esperado, é necessário que as pessoas tomem as doses de reforço — a imunidade desencadeada pelo esquema primário (vacinas de duas doses ou de dose única), aplicado em 2021, já não parece ser tão eficaz. Por outro lado, dados atualizados dos EUA apontam a importância de estar com as doses de reforço em dia, o que reduz o risco de hospitalizações e de óbitos. No caso brasileiro, embora a primeira dose do reforço esteja disponível para todos com mais de 12 anos, a busca pelo imunizante é baixa. Levantamento do Consórcio Nacional de Veículos aponta que apenas 49% da população tomou a terceira dose. Enquanto isso, algumas cidades já liberam a quarta dose para todos com mais de 18 anos, como São Paulo. No entanto, este movimento não é homogêneo. Em Curitiba (Paraná), a quarta dose está somente liberada para pessoas imunossuprimidas, profissionais da saúde ou para aqueles que têm 37 anos ou mais. Por isso, é fundamental checar como está a sua região, antes de ir até um centro de vacinação. No extremo oposto, algumas localidades já liberam a quinta dose para os que têm mais de 18 anos e são imunossuprimidos.
Cadê a vacina das crianças?
No Brasil, as vacinas contra a covid-19 estão liberadas apenas para crianças de 6 meses a 2 anos com comorbidades e crianças com mais de 3 anos (independente dos fatores de saúde). Apesar do grupo diminuto de crianças que podem ser imunizadas, a vacinação não decolou. Segundo a Fiocruz, apenas 5,5% entre os que têm de 3 a 4 anos já receberam as duas doses da vacina. Aqui, é importante destacar que, sim, a covid-19 pode ser mortal mesmo em crianças pequenas. Desde o começo do ano até agora, mais de 477 mortes foram confirmadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) associado à covid em bebês e crianças de até 5 anos. Neste mesmo período, a influenza (gripe) provocou apenas 32 óbitos.
O Brasil vai ter vacinas de segunda geração contra a covid-19?
Para fechar a questão das vacinas, é preciso lembrar que alguns países já adotam os imunizantes de segunda geração, que protegem especificamente contra as subvariantes da Ômicron. São os casos dos EUA e de alguns membros da União Europeia, só que, por enquanto, não chegaram ao Brasil. Por aqui, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisa os dados clínicos e informações enviadas pela farmacêutica Pfizer para liberar estas vacinas.
Quão grave vai ser a nova onda da covid no Brasil?
Apesar disso, é preciso reforçar que “não é tudo de novo, porque o que a gente viu, em ondas passadas [2020 e 2021], em muitos aspectos, não vai se repetir agora. O cenário mudou. Nós temos vacinas e conhecemos mais esse agente infeccioso”, pondera a pesquisadora Mellanie Fontes-Dutra. “Exceto na situação de um novo vírus aparecer, dificilmente a covid-19 vai gerar esse novo cenário”, pontua. Inclusive, o cientista Vitor Mori lembra que “a evolução do cenário epidemiológico depende muito das intervenções que a gente toma, do momento em que tomamos e qual a aderência na população”. Por isso, é necessário que tanto as autoridades quanto as pessoas comuns se atentem para o atual momento, e atuem para conter a onda antes que se espalhe. Fonte: Com informações: Agência Fiocruz, G1 e Prefeitura de Curitiba